27.8.10



"que fase, amigo"

Não acredito em inveja, maldade nem orgulho, desde o começo eles me pareceram meio falsos sendo apresentados como senhores respeitáveis e distintos.

Sempre saquei aquela faísca vermelha no canto direito superior da pupila esquerda, aquele brilho que não é fagulha, mas chama napálmica agindo laranja por baixo dos sonhos.

Sou por princípio ingênuo e minha arte existe por isso, mas tenho minhas capas e armaduras e muitas delas espinhentas, de uso pernicioso aos convivas. Essas defesas afastam as pessoas e isso pode ser bom, pois quem sabe, saberá e nisso sempre cri pois não sou macieira a dar broto no verão.

Acreditava que escola de filosofia era lugar que um qualquer poderia adentrar em seus corredores e puxar assunto sobre as brisas da especulação auscultativa, da análise espectral de tendências semânticas e inventivas, bem como outras deliberações de uma mente papírica como essa que vos respinga.

Mas não.

Pensava aqui que artista, músico, ator, escritor, performer, poeta, benzedô era gente nativa da verdade e da bondade da inspiração... 

Que puxa! Imaginem vocês o tamanho do tombo do rapaz.

Dos que não sabem nada além do que "devem saber" sempre recebi a incompreensão, pois a falta de habilidade e de contato com atmosferas mais virgens do plano-arte, justificam essa incompreensão. Aceito, compreendo e expurgo semente de tristeza e rancor, porque o feitio verdadeiro é perdão.

Vejo gente tremendo o pé de medo de ser o que já é, caçando medos mais do outro ser demais.

(RAPAZ QUEM É VOCÊ VOCÊ NEM SABE O QUE É SOFRER NASCEU NA BÉLGICA BEBEU LEITE DE ABELHAS DE OURO E MEL DAS TETAS DAS VACAS INDIANAS, RECEBEU EDUCAÇÃO DO ESPÍRITO DE SÓCRATES E TUAS ARTES FORAM MOZART, MODIGLIANI E MOLIÉRE QUEM TUTERALAM. COMO OUSAS TENTAR SABER DAS MAZELAS DAS GENTES SIMPLES QUE VIVERAM PISANDO O SOLO CRU E CRESCERAM BEBENDO OS LEITES PUROS?)

Esse é o tipo de refluxo que recebo quando exponho minhas visões do mundo aos meus iguais, aos que considero tribo, os artistas, as sensibilidades do mundo, a estrutura nervosa de toda uma espécie.

Daí me dizem: Mas se te preocupas é porque deves (a desconfiança é gratuita, mas crédito tá em falta) porque te importa tanto a atenção, o reconhecimento (INSEGURO, VOLTA PRA MOEDA) se acreditas tanto assim?

Não me preocupo e essa é a verdade, mas me entristeço momentaneamente em ver que isso é sintomático e muitos, pelos motivos que demonstram estes sintomas, grandes artistas terminam suas vidas mostrando suas obras aos netos dizendo de tudo o que poderia ter sido, mas que isso e aquilo não permitiram e que "o pai/mãe de vocês me impediram"

Não preciso justificar minha vontade artística, preciso da sinceridade intelectual e sensorial dos meus pares artistas, não quero elogio, quero análise, quero olhar demorado, destrinchamento. Porque é feito pra ser mastigado, engolido e regurgitado pra re-processamento e daí quem sabe se extraia o gérmen.

E depois disse, obter o sumo dessa análise de volta, porque assim eu quero, apesar de ter aqueles que fazem e não tão nem aí, mas não sou mais assim, quero saber o que você sabe sobre minha arte, entendeu?

Não é deficiência, mas característica. (olha eu justificando, nem doeu)

Falar mal, não é estar certo mas sim maledizência, mal dizer por mal dizer, coisa de atravancador ruim. Isso não é você nem é o que eles querem de você, acredite.

Falar bem é não dizer, é não prestar atenção e dizer o que é preciso. O elogioso, quando inconsciente é um falso. Elogio bom vem depois, mais tarde.

Arte demanda tempo e se não tem tempo pra analisar verdadeiramente deixe pra quem tem e quer ter esse tempo.

Eu admiro artistas que nem me aceitam como um fazedor de artes (e continuo a ver o brilho) mas não podem fazer mais que tecer rendas e traçar destinos. E ao olhar os sátiros desfiam palavras de fiar: "olhe o que preparei pra você, fedelho impertinente!"

Saravá e que o senhor dos ventos nos/vos/me guie, guarde o cajado pra caminhada do deserto e varra as poeiras radiativas pra longe daqui de nós.

Amor = nós unidos.

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