10.1.09

Ser são e não ser só




Persigo a criatividade de ser sempre o mesmo, tendo por base a constante impermanência dos sentidos mais presentes e menos conscientes de seus próprios efeitos sobre si.

Detectar prisões nas tempestades rápidas é o impertinente dever de um coração assoreado e fluido, rompante de cachoeiras que deságuam de margens plácidas como se de súbito houvera de ser menos árido.

Estampido! Beleza, clareza de centelha flamejante em noite sem lua. Sensação de romã fresca em contra-brisa temperada das exigentes hortelãs.

Palavras de brejo alegre, de macumba sinfônica, universalização dos cabreiros sementeiros de porvir, que tal servir-se de um coração impuro para fazer-lhe caminhos de uma glória pessoal da leveza liberta dos diversos.

Versos que ouso pensar, que a partir de minhas mãos se lançam ao olhar e a buscar no mundo semelhança próxima à que me chama o sentimento mudo. “Desenformar-se” é o que deseja o meu canto, avesso à prisão dos que clama a liberdade como algo que se possa controlar.

Quero mais o cavalo bravo, quero mais o ventar brusco, o chover constante de cinzas que ofuscam a visão com a verdade do eterno inverso, do inverno humano de cada querer.

Buscar minha vida com meus olhos e segurá-la com minhas mãos ardentes de sentir o calor infamante que salta aos olhos de quem quer ver. É o que quer o velho que de mim se apossa a partir de minha vingança de juventude.

Soprar as flautas de pan, lançar-se às feras de Nero, queimar nas bruxas o que em mim é vergonha. Meu espírito clama por algo que minha mente só sabe definir como liberdade.

Liberdade! O que tenho visto são entregas rápidas de liberdade instantânea, prisões com aroma artificial de amplidão, redemoinhos disfarçados de lagos e cordeiros devorando lobos como se fosse gente.

Não mesmo mais me importa essa santa farta imensidão de sonhos e toda a cultura humana em 3 minutos de pouca paciência. Não quero a realidade falsa, as ilusões de ser criança do velho que se lança à demência por querer ser eternamente são.

Não serei o que ri por último, se posso ser o que sempre ri.

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