25.4.08

A arte em sendo vida e nosso papel como intérpretes (ou O quão traiçoeiras podem ser as Moiras)


A inspiração é uma força que compõe a alma do artista, sentires intermináveis são lançados na corrente sanguínea de quem se deixa receber por essa manifestação sobrenatural, surreal de impulsos energéticos que se traduzem em seu vazio, em seu palco, como cores, timbres, texturas, imagens, gestos, palavras, silêncios e vazios. Interpreto.

Desdobram-se os portadores desta misteriosa motriz que se empenham sem questionamentos em traduzir o que traz o beija-flor da inspiração ao coração. Revelam-se espantosos matizes, timbres reveladores, palavras que mudam vidas, danças e movimentos que hipnotizam aos que se submetem a essa força motivadora dos mundos, a Arte.

A dança das palavras, o som das cores, os gestos precisos de uma escultura de bronze, barro e mármore. O poder transformador de tudo o que é supra-humano, do que é considerado surreal, mas que na verdade se confunde e por vezes subverte-se em realidade nos fazendo pensar se a vida imita a arte ou a arte imita a vida, penso que se trata de um amor recíproco, como arte e vida sendo almas gêmeas de um amor plena e eternamente sentido, vivido e interpretado. O complexo emaranhado de emoções vibrantes, de danças sem fim, de cores eclodindo como bombas de luz ao som de melodias extasiantes.

Viver a arte é interpretar a vida, interpretar a arte é vestir-se de lentes de libertação dos sonhos e enxergar o mundo como queremos, nossa vida como podemos.
O pintor que olha a tela e vê a obra pronta, o musicista que ouve a melodia do que nunca foi soado, o dançarino que salta em gestos nunca d’antes performado, o poeta que ventila as palavras que nossos corações querem e precisam, o ator que trança a emenda entre viver e criar o viver interpretativo.

Todos somos os instrumentos de uma grande orquestra orgânica, caótica e harmônica, e a natureza e seus poderes ancestrais a nos conduzir num grande sarau chamado vida em que dançamos, cantamos, interpretamos, pintamos, esculpimos e versamos os nossos caminhos em telas brancas, em páginas a serem escritas e em vidas à serem marcadas.

Não entreguemos nosso destino às Moiras, ao acaso, sob a desculpa de que algo precisa acontecer e esse algo se transformar um dia em nada aconteceu e termos a ilusão de que fizemos todo o possível para viver nossas escolhas, enquanto nos desculpávamos para nós de nós mesmos, dizendo: Não agora; e por fim, o triste e inevitável: É tarde!.

“A solução pra vida é viver” Não há caminho sem nossos passos trilharem, não há espetáculo, se o ator está na platéia, aguardando o fim de uma peça que não se iniciou por não estar lá atuando e por fim, deixar o teatro dizendo: Não fui feliz nessa peça.

Um comentário:

Anônimo disse...

Beguê, assim mesmo, com "gu", que é pra dar um ar de bahiano, e esse assim mesmo, com "ih", que é uma expressão predicada a anteceder fatos dos quais nos arrependemos, logo após conhecê-los.

Como diria o grande Chico:

Mais, quero mais
Nem que todos os barcos
Recolham ao cais
Que os faróis da costeira
Me lancem sinais
Arranca, vida
Estufa, vela
Me leva, leva longe
Longe, leva mais


Estufa a vela, cara!