16.4.07

O que deveria ser feito (borboleta ao chão)

Naquela da espiritualidade, via a vida de uma forma leve, suave, serena, branda, sublime e iluminada, até porque na idade que tinha era como ensinar à lagarta as benesses do casulo supremo e aconchegante.

Ocorreu de ter de largar o aconchego do casulo para tratar da vida de forma "brúscula". Senti-me inicialmente ferido, mas ao lamber as feridas vi-me liberto e por isso feliz.

Aprendi então que seria necessário muito sol e vento para secar e endurecer as asas ainda não formadas antes de poder alçar vôos, mas aprendi como o ex-paraquedista que lembrou-se tardiamente do para-quedas reserva inexistente quando por exibição soltou o principal. Imagine!

Desta forma, atrapalhadamente, vi-me em meio aos sons da cigarra que me vislumbrava o sofrimento e em seus cantos tortuosamente harmônicos e cadentes me louvava o sofrimento dizendo:

"As asas do vento é que te voam, as suas são para frear, borboleta nova e bela, não emoreça jamais"

Cigarra sortuda ridícula, vai explodir em breve e me tira sarro porque terei que viver meus longos meses de vida com asas que não funcionam. exclamei!

Sonoras e doces reprimendas vieram a me contradizer:

"Se não me vejas assim, meu canto de mais te perderia, aprende comigo o tal canto, que mais de tanto seria, a vida que passageira, bela e desofreguida."

E assim a cigarra encerrou sua jornada de canto e consolo.

Enquanto isso vivo o inverso dos prazeres, invejada por asas coloridas e profusas, mas incapaz de sentir a brisa do vento em minhas antenas agudas e afiadas pelas necessidades constantes de me defender sem minha principal defesa.

Enquanto isso, vago de folha em folha, planando tortamente, visto que as asas que já se secaram se mostram tortas e velhas, mesmo ainda novas.

De vez que sozinho no mundo, sinto que deveria, mesmo que por teimosia, tentar a dica da cigarra e voar contra vento plangente ou quem sabe cantar livremente e qual a sina da cantora breve, explodir em cores, versos e melodias. E assim, por um segundo seria livre. E assim por um segundo seria forte.

Cada um que faça disso o que quiser fazer. desde que seja feito.

Um comentário:

Anônimo disse...

Profundo...bonito...triste